sábado, 24 de janeiro de 2009



Ele abriu a janela ao meio, o que encheu a sala de ar frio.
- Venha cá, Griet.
Deixei os panos no parapeito e dirigi-me para junto dele.
- Espreita pela janela.
Espreitei. Estava um dia ventoso, com nuvens que desapareciam por trás da torre da igreja.
- De que cor são aquelas nuvens?
- São brancas, senhor.
- São? - perguntou ele, erguendo ligeiramente as sobrancelhas.
Olhei-as novamente.
- E cinzentas. Talvez vá nevar.
- Vá lá, Griet. Consegue fazer melhor do que isso. Pensa nos teus legumes.
- Nos meus legumes, senhor?
Ele moveu a cabeça ligeiramente. Estava outra vez a irritá-lo. O meu maxilar contraiu-se.
- Pensa em como separaste os brancos. Os nabos e as cebolas. São do mesmo branco?
De súbito compreendi.
- Não. O nabo tem verde a cebola amarelo.
- Exatamente. Então, que cores você vê nas nuvens?
- Há azul nelas - respondi depois de as examinar durante alguns minutos. E… Amarelo também. E algum verde!
- Estava tão entusiasmada que até apontei. Tinha olhado para nuvens durante toda a vida mas era como se as visse pela primeira vez naquele momento.
Ele sorriu.
- Há de descobrir que há pouco branco puro nas nuvens, embora as pessoas digam que são brancas.


(Moça com brinco de pérolas-2003)


terça-feira, 16 de dezembro de 2008





: Era vidro e se quebrou.


sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"O corpo treme e a alma grita."

domingo, 2 de novembro de 2008

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento
e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos

(O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA - Manuel de Barros)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008





"Você será sempre mais que uma memória"

(If i ever leave this world alive - Flogging Molly)






sexta-feira, 24 de outubro de 2008


"Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão".

(Memórias - Carlos Drummond de Andrade)




Apaixonou-se
Primeiro pelo sorriso
Depois pelo cinza
Que a menina carregava

A menina então,
Sugou suas cores
Tingiu-se com alegria

Ele desbotado
Olhos cheio de dor
Afastou-se da menina
Buscou novas cores no mundo



quarta-feira, 22 de outubro de 2008







A inspiração fugiu.

Só resta esperá-la.